
Negociação de Dividas - 24/08/2025
Negociação de dívidas cresce 22% no RN, com Geração Z em destaque
Débitos com cartões e bancos são responsáveis por 32% da inadimplência no RN, seguidos dos financiamentos, com 26% | Foto: Adriano Abreu
Distante 3 mil km de sua namorada, o potiguar Fernando Cabral, 25 anos, tomou uma decisão que parecia inevitável naquele momento: pegar dinheiro emprestado por meio do cartão de crédito para conseguir visitá-la. A ideia era simples – ver a companheira e pagar o empréstimo com recursos do trabalho. Mas, com o tempo, a solução rápida acabou se transformando em um problema de difícil resolução. Desempregado, ele ficou sem dinheiro para quitar a dívida e precisou negociar o valor meses depois, quando o tamanho da conta já era outro maior que o anterior. Cinco meses depois, já novamente empregado, Fernando tem outra visão sobre o dinheiro e criou uma forma de equilibrar as contas: só gasta 30% do que ganha com o cartão de crédito, incluindo o pagamento da dívida.
O caso do potiguar não é isolado: o RN registrou a maior alta do Nordeste, entre janeiro e julho de 2025, na negociação de dívidas, com aumento de 22%. Outro dado chama a atenção: pessoas como Fernando, da chamada Geração Z, entre 18 e 25 anos, foram os principais responsáveis por impulsionar a alta do Estado: aumento de 64% em relação ao mesmo período de 2024. Os dados são da Serasa Experian, que publicou pesquisa nesta semana sobre a regularização financeira em todo o Brasil.
“Minha ideia era, assim que voltasse da viagem, achar um emprego e equilibrar as contas. Só que o mercado de trabalho está difícil e não foi isso que ocorreu. Por isso precisei renegociar, porque já tinha aumentado um pouco a dívida, já que eu fiquei um tempo sem pagar”, aponta. “Eu aprendi a lição para não contar com o ovo dentro da galinha, digamos assim, porque se eu estou fazendo esse tipo de coisa e fico desempregado e não tenho direito a seguro desemprego, eu não posso contar com isso. Pra mim, se eu for usar o cartão de crédito, é o equivalente a 30% da renda mensal. Isso, mesmo se eu ficar desempregado, dá para pagar”, comenta.
O cenário do RN no crescimento das negociações de dívidas entre os jovens foi um dos mais positivos do Brasil, que também registrou crescimento de 49% na quantidade de pessoas que negociaram pela plataforma Serasa Limpa Nome. No perfil das dívidas, os débitos com cartões de crédito e bancos são responsáveis por 32% de toda a inadimplência no RN, seguidos dos financiamentos, com 26%.
“Hoje temos uma facilidade e conhecimento de saúde financeira muito superior ao que tínhamos 10 anos atrás. Hoje entra-se no Tiktok, Kwai, Instagram e encontra-se diversos influenciadores que te inspiram a ter esse controle das contas, quanto se ganha, quanto se gasta. Essa democratização da informação da saúde financeira se demostrou bem clara nessa pesquisa em que fizemos com várias gerações, mas com a Geração Z destoando de todas. Esse conhecimento, há alguns anos, era difícil de ser atingido, precisava de cursos, livros, mas não era tão simples de se pegar em qualquer lugar”, afirma Lucas Tosati, especialista da Serasa em educação financeira.
A situação que Fernando Cabral passou no final de 2024 e no primeiro trimestre deste ano não foi nova para ele, mas deixou lições importantes. Anos antes, ele havia contraído uma dívida, também de cartão de crédito, que precisou ser negociada junto a plataformas do Serasa. Atualmente, Fernando trabalha como assistente virtual e conta que modificou completamente sua relação com o dinheiro. Ele espera pagar suas dívidas o quanto antes.
Assim como Fernando, o potiguar Mário Filipe, de 24 anos, também se viu numa situação financeiramente delicada em 2025. A questão dele, no entanto, guarda relação com o período em que esteve na faculdade, quando recorreu a empréstimos e cheques especiais fornecidos por bancos. Após isso, ficou com dificuldade de acesso a crédito, tendo se regularizado somente há dois anos.
“Sobre negociar dívidas, teve uma recentemente que eu fiz no cartão de crédito justamente porque seria melhor não pagar juros. Na minha cabeça, eu pegaria o cartão, passaria numa máquina e teria acesso ao dinheiro. Os juros que eu recebia, seriam pequenos. Às vezes faltava dinheiro para pagar duas contas e eu passava elas duas no cartão e dividia sem juros. Só que juntei tantas coisas que no primeiro mês veio uma parcela de R$ 200 e no segundo subiu para R$ 800. Não consegui pagar, parcelei a despesa, mas tive meu cartão cancelado”, relembra Mário Filipe, que é servidor público.
Geração Z tem traçado objetivos
A pesquisa da Serasa ouviu 2.923 participantes de 18 a 29 anos em todo o país. De acordo com o estudo, 59,3% dos jovens nordestinos já são os principais responsáveis por seus gastos mensais, e 35,6% ajudam nas contas de casa. Entre os objetivos com o dinheiro, os principais são comprar um bem como casa ou carro (46,8%), investir (32,6%) e pagar as contas básicas (31,7%).
“Quando analisamos o comportamento dessa geração, conseguimos perceber que estamos formando uma geração muito responsável”, explica Lucas Tosati, especialista da Serasa em educação financeira. “O dado que mais me chamou atenção foi os objetivos que a Geração Z já vem construindo, demonstrando um crescimento em entender que a saúde financeira é um ponto importante. Percebemos que 46% deles querem comprar casa ou carro. Quando pensamos em saúde financeira, ter um planejamento, meta, estabelecer para onde vamos no futuro, é um dos primeiros passos a se tomar”, aponta.
Segundo o economista e integrante do Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Norte (Corecon-RN), Helder Cavalcanti, o aumento de negociações no Nordeste se deve a dois fatores de destaque: a intensa divulgação das rodadas de negociação e mutirões de limpezas de nome aliada a um forte movimento de educação financeira.
“É uma atividade que a docência tem procurado encaixar nisso, há um incentivo claro do governo em dar esse suporte às pessoas e algumas entidades, como o Conselho de Economia, de dotar as pessoas do senso crítico para gerir seu dinheiro. A negociação das dívidas é uma das etapas de uma boa gestão financeira. É estimulante, é algo que nos deixa satisfeitos, mas é preciso observar que, após a negociação, o consumidor precisa aprender com aquela situação e mudar o comportamento na gestão do seu recurso financeiro. A expectativa é de que as pessoas façam isso e que cada vez mais seja menor o índice de negociação de dívidas, que não haja a dívida de maneira tão impactante como temos hoje em dia”, cita Helder.
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Comentários
disse:
em 01/01/1970 - 12:01
